terra e tempo

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"Vou a medo na aresta do futuro/ Embebido em saudades do presente" Camilo Pessanha

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A BELEZA EM CADA SER É UMA ALEGRIA ETERNA

A beleza em cada ser é uma alegria eterna:

o seu encanto torna-se maior e nunca se há-de perder

no nada; reservar-nos-á ainda um refúgio


de paz, onde adormeceremos, habitados por sonhos


suaves, uma íntima plenitude, uma respiração branda.


Comecemos, assim, a tecer em cada manhã


uma grinalda de flores para nos unirmos à terra,


apesar do desalento, da ausência daqueles


cuja nobreza amávamos, dos dias cheios de escuridão,


de todos os caminhos insalubres e misteriosos,


abertos para os nossos anseios; sim, apesar de tudo,


uma forma de beleza afasta o sudário


das nossas almas sombrias. Assim é o sol, a lua,


as antigas ou novas árvores cuja bênção faz germinar


a sombra sobre os humildes rebanhos; os narcisos


e o mundo verdejante que os cerca; e os límpidos rios


que para si criam um dossel de frescura


durante as estações ardentes; os silvados do bosque


enriquecidos pelo belo, nascente esplendor das rosas;


e, também, a magnificência do destino


que imaginamos para os mortos poderosos;


e as histórias encantadoras que lemos ou escutamos:


fonte inesgotável duma imortal bebida,


que vem do limiar do céu e para nós se derrama.


E não é apenas durante algumas horas breves

que ficamos presos a estas essências; assim como as árvores


murmurando à volta dum templo logo se tornam


tão amadas como o próprio templo, também a lua


e a paixão da poesia, glórias inifinitas, tantas vezes


nos assombram, até serem uma luz vivificadora


para a alma, e tão estreitamente nos cingem


que, fique a brilhar o sol ou se apaguem os céus,


para sempre hão-de existir em nós, ou morreremos.



John Keats, “A thing of beauty is a joy for ever”

Tradução de Fernando Guimarães

Poesia Romântica Inglesa, Relógio D'Água, 1992

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